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Pente-fino no Bolsa Família mira cadastro de famílias de uma pessoa só; especialista sugere retomar regras antigas
Pente-fino no Bolsa Família mira cadastro de famílias de uma pessoa só; especialista sugere retomar regras antigas
Em auditoria em 2022, o TCU constatou que as regras do então Auxílio Brasil, implementadas no governo Bolsonaro, geraram um incentivo a declarações falsas sobre a composição familiar, permitindo que integrantes de uma mesma família conseguissem se registrar separadamente.

O governo federal vai revisar a lista de beneficiários do Bolsa Família para identificar possíveis fraudes no cadastro de famílias formadas por uma única pessoa. Hoje, quase 23% dos beneficiários têm esse perfil.

O sinal de alerta foi dado no fim de 2022, ainda durante a transição de governo: o crescimento do número de famílias que se registraram como unipessoais no CadÚnico foi o que primeiro chamou a atenção.

Entre outubro de 2021 e o fim do ano passado, o percentual de famílias formadas por única pessoa inscritas no Cadastro Único passou de 15% para 26%. De acordo com o governo, hoje são quase 5 milhões.

Em uma auditoria do ano passado, o Tribunal de Contas da União constatou que as regras do então Auxílio Brasil, implementadas na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, geraram um incentivo a declarações falsas sobre a composição familiar, permitindo que integrantes de uma mesma família conseguissem se registrar separadamente, recebendo mais recursos públicos.

Uma outra distorção apontada pelo TCU é que há casos em que uma mãe sem renda e com dois filhos recebe o mesmo valor de uma pessoa, também sem renda, mas que vive sozinha.

Especialistas defendem retomar o modelo em que famílias maiores recebem mais. O economista Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas, afirma que o critério para o registro de famílias unipessoais precisa ser revisto, porque vem gerando injustiças.

"As regras do programa precisam ser melhoradas, voltar à antiga regra do velho Bolsa Família, em que famílias maiores, mais pobres, recebem mais dinheiro. Porque as necessidades são maiores; você precisa de seis vezes mais feijão com arroz, e por aí vai. Um programa que se chama Bolsa Família e que não enxerga a família, literalmente, não vai conseguir enxergar as necessidades dessa família. E os incentivos da estrutura do programa que ele herdou do Auxílio Brasil levam a essa direção”, defende.

Desde o início do ano, o Ministério do Desenvolvimento Social está fazendo um pente-fino no CadÚnico. O objetivo, de acordo com o governo, é revisar o registro geral e regularizar inconsistências no cadastro. O ministério calcula que 10 milhões de famílias precisarão se recadastrar no Bolsa Família por falta de informações, mas a prioridade são os 2,5 milhões de casos com indícios de fraudes no programa.

O ministro da pasta, Wellington Dias, disse, nesta quinta-feira (9), que o Cadastro Único foi desmantelado de forma proposital, e que a revisão vai excluir aqueles que não precisam do benefício e permitir a inclusão no programa dos mais vulneráveis.

“Foi desmantelado o próprio cérebro do Cadastro Único. As máquinas, os equipamentos. Ou seja, é como se tivesse uma bagunça para perder o controle. E agora o que a gente está fazendo? Organizando. O Cadastro Único é o cérebro da assistência social. O trabalho é feito com base em pessoas que preenchem determinados requisitos. Quem é que está ali na linha de pobreza? Como a gente trabalha para poder garantir as suas necessidades? O que digo é que temos ali, infelizmente, pessoas com renda elevada. Pessoas, acreditem, com 9 salários mínimos para mais e recebendo o Bolsa Família. Do outro lado, do lado de fora, pessoas sem renda, passando fome, e que não conseguem acessar. Então, no que estamos trabalhando agora nessa integração é mais do que uma atualização do cadastro, é uma justiça na área social”, destacou.

O ministério já apresentou para a Comissão de Gestores Federais, Estaduais e Municipais ligados à Assistência Social, a proposta de programa para fortalecer o CadÚnico. Além da revisão do cadastro do Bolsa Família, o programa prevê:

o aumento da capacidade de atendimento de estados e municípios
contratação de pessoal e compra de materiais e equipamentos
Busca ativa de famílias , em especial a população em situação de rua, povos indígenas e crianças em situação de trabalho infantil

O governo estima o repasse de verbas de quase R$ 400 milhões para a contratação de entrevistadores e para medidas que reduzam filas nos postos de atendimento. Hoje, quase 22 milhões de famílias recebem o beneficio, que tem valor médio de R$ 614.

presidente do Fórum Nacional de Secretários Estaduais de Assistência Social, Cyntia Grillo, afirma que o programa foi desestruturado no governo passado e que a reformulação é urgente:

“Tem muitas famílias, hoje, dentro do Cadastro Único, que não são perfil para o cadastro. Esse é o ponto mais crítico que temos. Hoje é preciso requalificar as informações das famílias brasileiras no cadastro, para que ele reflita realmente o perfil daquelas que são mais vulneráveis e precisam de uma atenção prioritária".


Publicado em 09/02/2023 ás 18:02
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